segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Os animais do presépio
Um senhor que era importante para muita gente ordenou que todos retirassem os animais do presépio.
O senhor sabia que era importante. Ele via a sua importância a brilhar à sua volta e do corpo para fora. Via-a à sua frente em milhões de pessoas que choravam ao vê-lo chegar, choravam ao vê-lo estar, e choravam ao vê-lo partir. Contudo, faltava-lhe na alma a sensação de autoridade. É certo que, essas pessoas que choravam, lhe respondiam só o que ele queria ouvir, só quando ele queria, mas isso não lhe preenchia toda a vontade de autoridade. Quando comparava a sua autoridade com a de antigos senhores de semelhantes importâncias, sentia-se a desonrar o seu importante cargo de ser importante. Sem autoridade, sentia-se a desimportanciar-se. Então ordenou que todos retirassem os animais do presépio. Proibiu que fodessem à canzana. Permitiu sem encorajar, na qualidade de pessoa que ordena e proíbe, o uso do preservativo. Ordenou. Proibiu. Permitiu autoritariamente. Recebeu a sensação de autoridade com a alegria de uma criança que recebe um brinquedo.
No Natal seguinte, muitas crianças receberam de presente uma vaca e um burro feitos de brinquedo, que não brilhavam nem obedeciam.
A punição destinada aos rebeldes que deixassem os quadrúpedes no presépio era severa. Corriam o risco de serem vistos, aos olhos dos obedientes, como alguém que tem a sua fé desactualizada. Como quem tem um hardware para o qual não haverá mais actualizações de firmware.
Quem fodesse à canzana vinha-se mais rápido - pior ainda. Mas muitos já sabiam. Limitavam-se a deixar essa posição para o fim.
Quem não usasse preservativo, corria o risco de morrer - ainda pior ainda. Esta, para o povo, não foi fácil de compreender. Então nos últimos milhares de anos eram obrigados a correr o risco de morrer? E só agora é que lhes permitem que se acautelem quanto a isso? Foram dúvidas que não mereceram muito exercício de pensamento. Ficaram por esclarecer.
Muita gente morreu da não-utilização do preservativo. O senhor era importante e autoritário. Apelar, avisar, aconselhar, prevenir... não faziam parte da lista.
Enquanto isto, na China não se passava nada de especial.
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