quinta-feira, 8 de maio de 2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Cuidado homem sem tomates

Cuidado homem sem tomates
Há quem sugira que tu te mates.
Foge ou então faz-te um homem
Ou sê cobarde como os que somem.

Dá um murro, grita não
À mesa da reunião
Isso não é má educação.

Má educação

É transmitir a uma mente
Que o corpo a que é adjacente
Não deve agir conforme sente

O coração.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Fim do mundo



Não é,

Mas se fosse o fim do mundo,

Ninguém se entenderia.
Se as palavras, hoje em dia,
São quase inúteis,
De que serviriam elas no Fim?
A espada de Cristo perfuraria a sua carne.
Verbo contra verbo. Verbo vencido, a alma derramada,
E humanos como hienas solitárias.
Da voz da Amália compreender-se-iam
Apenas os gritos ao barco negro;
E do telejornal,
De planos tortos de câmaras caídas,
Apenas os tiros.

Mas não é.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

"O Homem Perfeito"

"Não é necessário que todo aquele que possui tudo conheça tudo? Alguns, certamente, se não se conhecem a si mesmos, não beneficiarão do que possuem; mas os que aprenderam a conhecer-se beneficiarão disso"

Evangelho de Filipe 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Poema atrasado

Já não sei do que sou capaz.
Já não conheço a minha força.
Preciso de não me ver...

De não me sentir!

Noites claras, que dou por mim,
Dão comigo por baixo da cama
À procura do escuro que traz a minha ausência a mim próprio,
Mas que nunca chega
Por sentir o chão frio,
O corpo desconfortável
E o coração em chamas.

Se não estás, meu amor, eu não quero estar comigo.
Se te vais, meu amor, teu cheiro fica.
Se não vens, meu amor, teu cheiro chega.

Tua pele fugiu-me dos lábios.
Deixei em ti um beijo que ainda sinto.
Hoje vejo o beijo com o tal fogo do meu peito.

Meu amor, teus lábios são
Um vale
Onde meus se perdiam.
Teu cabelo é um rio onde eu afogava as minhas mãos.
Teu corpo é um multiverso.

O teu amor, meu amor, hoje seria
O meu fato de astronauta

E a velocidade da luz em mim.Mas onde está o teu amor, meu amor?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Nós deveríamos ser um balão

Nós deveríamos ser um balão
Daqueles que rebentam no fim da festa.
Não um dos que se ficam
Esvaziando e enrugando depois.
Mantenhamos toda a vida toda a vida,
Todo o ar do balão toda a festa.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Os animais do presépio


Um senhor que era importante para muita gente ordenou que todos retirassem os animais do presépio.
O senhor sabia que era importante. Ele via a sua importância a brilhar à sua volta e do corpo para fora. Via-a à sua frente em milhões de pessoas que choravam ao vê-lo chegar, choravam ao vê-lo estar, e choravam ao vê-lo partir. Contudo, faltava-lhe na alma a sensação de autoridade. É certo que, essas pessoas que choravam, lhe respondiam só o que ele queria ouvir, só quando ele queria, mas isso não lhe preenchia toda a vontade de autoridade. Quando comparava a sua autoridade com a de antigos senhores de semelhantes importâncias, sentia-se a desonrar o seu importante cargo de ser importante. Sem autoridade, sentia-se a desimportanciar-se. Então ordenou que todos retirassem os animais do presépio. Proibiu que fodessem à canzana. Permitiu sem encorajar, na qualidade de pessoa que ordena e proíbe, o uso do preservativo. Ordenou. Proibiu. Permitiu autoritariamente. Recebeu a sensação de autoridade com a alegria de uma criança que recebe um brinquedo.
No Natal seguinte, muitas crianças receberam de presente uma vaca e um burro feitos de brinquedo, que não brilhavam nem obedeciam.
A punição destinada aos rebeldes que deixassem os quadrúpedes no presépio era severa. Corriam o risco de serem vistos, aos olhos dos obedientes, como alguém que tem a sua fé desactualizada. Como quem tem um hardware para o qual não haverá mais actualizações de firmware.
Quem fodesse à canzana vinha-se mais rápido - pior ainda. Mas muitos já sabiam. Limitavam-se a deixar essa posição para o fim.
Quem não usasse preservativo, corria o risco de morrer - ainda pior ainda. Esta, para o povo, não foi fácil de compreender. Então nos últimos milhares de anos eram obrigados a correr o risco de morrer? E só agora é que lhes permitem que se acautelem quanto a isso? Foram dúvidas que não mereceram muito exercício de pensamento. Ficaram por esclarecer.
Muita gente morreu da não-utilização do preservativo. O senhor era importante e autoritário. Apelar, avisar, aconselhar, prevenir... não faziam parte da lista.
Enquanto isto, na China não se passava nada de especial.

sábado, 27 de novembro de 2010

às voltas à minha volta

a incerteza impera
na minha inteligência
e eu decerto sou escravo dela.
sou como se a morte
me sorrisse bem de perto
e a vida já não fosse bela.
dúvidas sobre tudo - elas são
toda a ocupação do meu pensar.
elas são, sobretudo, a razão
porque não sei agir,
porque não sei amar.

(a noite caiu mais escura,
como nunca antes caíra,
e com toda a minha saudade
lembro o tempo em que minh'alma era pura,
o negro da noite mentira,
e a luz do dia verdade.

mas troquei quase tudo na vida,
quase tudo pelo contrário de tudo.
hoje sou quase o contrário de mim,
sou quase o contrário do mundo. )

eles lembram, enganados,
enquanto o tempo dura,
que nós não somos Natureza.
mas que a Origem é uma verdade escura,
e que na vida não há senão tristeza
eles esquecem e têm quase a certeza
eu penso e tenho quase a loucura.

e que tortura, esta loucura -
o ter demais que pensar,
o ter demais que não sinto,
o meu desejo faminto
de tanto querer saber,
e de tanto querer saber nem achar.

mais uma pergunta, menos uma resposta,
mais meia volta na cama.
mais um medo que me lembro, menos uma coragem que tenho e
meia volta na cama.
mais isto, menos aquilo e...
meia volta na cama.

sempre assim - mesmo sempre assim,
que eu não sei nem saberei do meu presente ou do porvir -
até que o dia chama por mim
e me levanto sem força e com preguiça de sentir.